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sábado, julho 28, 2012

MAMÃE



A fraca e indecisa luz tremeluzia sobre a cabeça de Vânia, ao seu redor uma psiquiatra e dois policiais a encaravam com olhares questionadores e um tanto quanto espantados. Ela segurava um boneco enrolado em uma manta. O boneco parecia uma criança de verdade, não fosse pelo seu aspecto sujo e rabiscado. Todos na saleta do interrogatório suavam. Vânia suava e fedia.
- Como foi que a matou? – gritou o policial impaciente.
- Como foi que a matou? – o outro puxa a cabeça da mulher para que ela olhe para eles e não para o boneco.
- Com uma martelada na cabeça, enquanto dormia – respondeu Vânia acuada e protegendo o boneco.
- Então você confessa que matou sua filha?
Sem responder ao policial Vânia enfia a mão na manta e aperta um botão do boneco.
- Mamãe, sou muito infeliz. – saiu uma voz gravada do boneco, que se repetiam várias vezes.
- Filhinho, estou aqui para ajudá-lo. – Disse ela acarinhando o boneco e apertando novamente o botão.
- Você vai ficar sempre junto de mim, para me ajudar? – Novamente a voz mecânica repetindo-se.
- Filhinho, ponha um pouco de juízo nessa cabeça. Você está ficando louco. – respondeu a Vânia.
A psiquiatra cautelosa, se aproxima da prisioneira e diz: - Vânia, esse não é o seu bebê!
Vânia altera-se, agita-se. - Todo mundo me detesta, todos tem inveja!Inveja só porque eu tenho filho homem... é menino, menino-homem, meu bebê, igual ao pai.
- Foi por isso que você a matou Vânia? – perguntou a psiquiatra aproveitando o seu descontrole.
A mulher embala o boneco como que para acalmá-lo de seu próprio desespero.
- Ele não queria menina, não queria, ele não queria, menina não! Não, menina. A menina... a menininha... – enquanto repete, ela aperta o botão do boneco que também fica a repetir.
 - Mamãe, sou muito infeliz. Mamãe sou muito infeliz.





Trecho do texto “O Arquiteto e o Imperador da Assíria”
- Mamãe, sou muito infeliz.
- Filhinho, estou aqui para ajudá-lo.
- Você vai ficar sempre junto de mim, para me ajudar?
- Filhinho, ponha um pouco de juízo nessa cabeça. Você está ficando louco. Está sempre só.
- Todo mundo me detesta.
- Todos têm inveja. Como foi que a matou?
- Com uma martelada na cabeça, enquanto dormia.