A
fraca e indecisa luz tremeluzia sobre a cabeça de Vânia, ao seu redor uma
psiquiatra e dois policiais a encaravam com olhares questionadores e um tanto
quanto espantados. Ela segurava um boneco enrolado em uma manta. O boneco
parecia uma criança de verdade, não fosse pelo seu aspecto sujo e rabiscado.
Todos na saleta do interrogatório suavam. Vânia suava e fedia.
-
Como foi que a matou? – gritou o policial impaciente.
-
Como foi que a matou? – o outro puxa a cabeça da mulher para que ela olhe para
eles e não para o boneco.
-
Com uma martelada na cabeça, enquanto dormia – respondeu Vânia acuada e
protegendo o boneco.
-
Então você confessa que matou sua filha?
Sem
responder ao policial Vânia enfia a mão na manta e aperta um botão do boneco.
-
Mamãe, sou muito infeliz. – saiu uma voz gravada do boneco, que se repetiam
várias vezes.
-
Filhinho, estou aqui para ajudá-lo. – Disse ela acarinhando o boneco e
apertando novamente o botão.
-
Você vai ficar sempre junto de mim, para me ajudar? – Novamente a voz mecânica repetindo-se.
-
Filhinho, ponha um pouco de juízo nessa cabeça. Você está ficando louco. –
respondeu a Vânia.
A
psiquiatra cautelosa, se aproxima da prisioneira e diz: - Vânia, esse não é o
seu bebê!
Vânia
altera-se, agita-se. - Todo mundo me detesta, todos tem inveja!Inveja só porque
eu tenho filho homem... é menino, menino-homem, meu bebê, igual ao pai.
-
Foi por isso que você a matou Vânia? – perguntou a psiquiatra aproveitando o
seu descontrole.
A
mulher embala o boneco como que para acalmá-lo de seu próprio desespero.
-
Ele não queria menina, não queria, ele não queria, menina não! Não, menina. A
menina... a menininha... – enquanto repete, ela aperta o botão do boneco que
também fica a repetir.
- Mamãe, sou muito infeliz. Mamãe sou muito
infeliz.
Trecho
do texto “O Arquiteto e o Imperador da Assíria”
-
Mamãe, sou muito infeliz.
-
Filhinho, estou aqui para ajudá-lo.
-
Você vai ficar sempre junto de mim, para me ajudar?
-
Filhinho, ponha um pouco de juízo nessa cabeça. Você está ficando louco. Está
sempre só.
-
Todo mundo me detesta.
-
Todos têm inveja. Como foi que a matou?
-
Com uma martelada na cabeça, enquanto dormia.